Para algumas pessoas pode até parecer estranho conhecer cemitérios, mas para mim é normal, pois muitos são lindos e possuem verdadeiras obras de arte em seus mausoléus.
Hoje vou falar de um cemitério muito diferente, localizado no bairro do Testaccio, em Roma e não muito longe do centro histórico. É um passeio muito bonito de se fazer. Também conhecido como Cemitério Protestante ou Cemitério dos Poetas, devido ao grande número destes lá sepultados, o nome oficial é
Cimitero Accatolico. Mas, por que este nome?
No portão de entrada tem a inscrição latina "Resurrecturis", que significa "aqueles que ressuscitarão". Paga-se em torno de 2 euros para entrar, não lembro bem, mas é um valor simbólico, para ajudar a manter o cemitério.
É que no século 18, os não católicos que moravam (e morriam) em Roma, não tinham autorização do papa para serem enterrados nos cemitérios católicos. Em 1738, foi então construído o Cimitero Accatolico e lá puderam ser enterrados ateus, judeus, cristãos, ortodoxos, muçulmanos e agnósticos que, até então, não tinham um local digno para serem enterrados naquela cidade. Somente em 1870 foi reconhecido oficialmente como cemitério, mas sempre teve dificuldades para se manter e hoje sobrevive graças aos visitantes e à doações recebidas.
Mais de 4.000 pessoas estão lá enterradas, na maioria, estrangeiros não católicos. Há também alguns católicos, que eram filhos, esposas ou maridos de não católicos, também lá sepultados. Tem a parte antiga e uma mais nova, para os não católicos de hoje.
O Cemitério é lindo, tem muito verde, todo muito bem cuidado e possui muitas estátuas curiosas sobre os túmulos. Encontrei também muitos gatinhos por lá. Aliás, Roma está cheia de gatos. Por todos os lugares, até dentro do Coliseu. Eu vi também alguns livros com o título: I Gatti di Roma!

Entre as personalidades, lá repousam os restos mortais de: Augusto von Goethe, único dos 5 filhos do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe que chegou na fase adulta, mas que faleceu antes do pai; as cinzas do filósofo Antonio Gramsci, co-fundador do Partido Comunista Italiano, que foi morto em uma prisão do ditador Benito Mussolini e posteriormente incinerado; o poeta John Keats, enterrado em uma tumba anônima após morrer em Roma aos 24 anos de idade e depois transferido para este cemitério; o poeta inglês Percy Bysshe Shelley, que morreu afogado aos 30 anos; o escritor Carlo Emilio Gadda; a atriz inglesa Belinda Lee, morta em acidente de trânsito e a poetisa italiana Amelia Rosselli. Ali jaz também um príncipe afegão, que se criou e morreu em Roma e o ourives Bulgari..
L'Angelo del Dolori
Uma das estátuas que mais me impressionou pela sua beleza foi a do Anjo da Dor, do americano William Wetmore Story (por 40 anos, ele foi o mais importante arquiteto em Roma), dedicada à sua esposa morta, Emelyn Story. Posteriormente, ele também foi sepultado ali.
Esta imagem que está sobre o túmulo deve ser da própria Maria Obolensky, morta aos 18 anos (1855-73).
Este túmulo eu achei muito interessante também, com o cão vigiando o seu dono.
Túmulo do explorador e comandante da Marinha Militar, Thomas Jefferson Page, morto aos 25 anos e sua irmã, Mary Belle Page, falecida aos 21 anos.
Esta é outra homenagem ao amor além da vida. Diz o poema lá escrito: "Ela passou de um doce sonho de amor para a vida dos anjos". A flor, natural, é constantemente trocada.
Túmulo de Devereux Plantagenet Cockburn, falecido aos 21 anos (1829-50). Este jovem foi retratado com seu cachorro e enrolado em um cobertor. Consta acima que ele era muito amado pelos seus familiares, que procuraram pela sua saúde em vários países e este veio a falecer em Roma.
O lugar transmite uma calma e paz de espírito incríveis!
Ao lado deste cemitério tem a Pirâmide de Caius Cestius, em estilo egípcio. Esta pirâmide foi construída em 330 dias, no ano de 12 a.c., pelos herdeiros deste, que só poderiam tomar posse da fortuna depois de construírem esta pirâmide em sua homenagem e lá colocarem seus restos mortais.
A base da pirâmide está há uns 2 metros mais ou menos e lá embaixo vivem muitos gatos, que parecem vigiar o lugar, que também é chamado de "Santuário dos Gatos".
Caius Cestius era um importante magistrado romano da época e membro de uma das quatro corporações religiosas de Roma.
Esta é a minha dica para quem aprecia história e gosta de obras de arte. Esta visita me deixou muito curiosa, pois cada lápide ou imagem, parecia querer contar a sua história.
E você, visitaria um cemitério assim?
Beijos,
Ana Maria