Amável Maria e seu casaquinho verde!

Ela queria ser professora! Era muito à frente do seu tempo e saiu de casa cedo. Aos 16 anos já lecionava em um colégio de freiras e, aos 17, passou num concurso para professora municipal. Gostava de alfabetizar. Era enérgica e firme em sala de aula, mas durante o intervalo, brincava com as crianças no pátio da escola. Eram outros tempos, mas jamais foi desrespeitada por algum aluno. Foram centenas, talvez milhares de crianças e mais tarde, também adultos, alfabetizados pela doce e Amável Maria

casaquinho verde

A Amável Maria não queria casar e muito menos sonhava em ter filhos, pois estava muito feliz com sua profissão e sentia-se realizada. Até que um dia, já passando dos 30, ela conheceu aquele que foi o seu grande amor. Casaram, tiveram 3 filhas e a vida seguiu. 

Fundadora de uma escola
Lecionou em muitas escolas, inclusive fundou e foi a primeira professora de uma delas. Recentemente, recebeu várias homenagens por isso!
Algumas escolas ficavam muito longe de casa, nem tinha transporte até lá e ela caminhava vários quilômetros sob o sol forte, chuva ou frio, mas nunca deixou os seus alunos sem aula.

O punhal
Alguns trechos eram perigosos, mas a valente Amável Maria carregava um punhal entre os livros, presente do marido, caso precisasse se defender. E precisou! Certa vez, grávida da segunda filha, ela colocou pra correr um assaltante, ameaçando-o com o seu afiadíssimo punhal.

Punhal
  
A família
O marido viajava muito e ela cuidava de tudo, da casa, das compras, da alimentação da família, dos pagamentos, dos estudos das filhas e de seus alunos. Elaborava, aplicava e corrigia as provas e os cadernos. E ainda sobrava tempo para encher de amor o marido, as filhas e também de mimos a mais nova. "Ela é a bebê da casa, precisa de mais atenção!", justificava ela, tentando amenizar os ciúmes das outras duas.

Quando as filhas eram muito pequenas, geralmente a Amável Maria contava com a ajuda de alguma sobrinha mais velha, que cuidava das meninas, enquanto ela lecionava. Muitas vezes, porém, ela precisou sair com o coração apertado, deixando as filhas sozinhas, mesmo com a mais velha já adolescente. Era bagunça na certa!

Casaquinho verde

O casaquinho verde
Quando alguma filha ficava doente, ela vestia o seu casaquinho verde e corria contra o tempo e contra a doença, mas nunca deixou de cuidar ou de dar seu amor às filhas e ao marido. Seu casaquinho verde era a sua capa de Super Heroína.

Alfabetização à jato
Em seus últimos anos como professora, a Amável Maria começou também a alfabetizar adultos, no turno da noite. Por sorte, o local era perto de casa e não havia os perigos de hoje.

Como estes alunos adultos precisavam aprender rápido, ela se especializou em um método que ensinava o aluno a Ler a Jato. "Será que funciona mesmo?" chegou a se questionar.

Cartilha Ler a Jato

Então ela decidiu testar primeiro o novo método com a filha mais velha que, na época, tinha apenas 4 anos. Sim, funcionou e, em um mês, a pequena aprendeu a ler e a escrever. Ótimo, então a Amável Maria começou a aplicar a técnica nos adultos. Provavelmente demoraram um pouco mais para prender, mesmo assim, o método foi um sucesso.

A perda de seu grande amor
O tempo passou, as filhas cresceram, ela se aposentou e poucos anos depois, seu marido também. Finalmente conseguiriam aproveitar um pouco mais a vida juntos e planejavam o que fazer quando envelhecessem. Mas Deus tinha outros planos para eles! Seu amado marido adoeceu e um câncer muito agressivo o levou precocemente. A Amável Maria ficou ao seu lado o tempo todo, do início ao fim, sempre com seu casaquinho verde.

Mesmo perdendo o grande amor da sua vida, ela nunca ficou só. Ela ainda tinha o amor das filhas, depois dos genros, que ela chamava de "filhos do coração" e até um neto, que ela conheceu e viu crescer. Era o seu grande orgulho. A Amável Maria era muito amada! 

A coragem
O mais incrível é que ela não se achava valente, mesmo que dissessem que nunca tinham conhecido uma mulher tão corajosa quanto ela.

Quando precisava resolver algo importante, lá ia a Amável Maria, sempre vestindo o seu casaquinho verde. Nos últimos tempos, não era mais o mesmo casaquinho verde de outrora, pois os super heróis também precisam trocar suas capas! Mas ela o substituiu por outro... casaquinho verde! 

"Os anos pesam", dizia ela!
Os anos foram passando e começaram a pesar em seu já frágil e vivido corpo. Mas ela tinha muita fé e coragem, nunca se queixava ou se deixava abater. Sempre pedia a Deus para ficar aqui somente enquanto pudesse se levantar da cama sozinha. Quando não pudesse mais, era hora de partir.

Voltando pra casa
E assim, numa noite fria de outono, vestindo o seu casaquinho verde, a Amável Maria deixou arrumada a mesa para o seu café da manhã e se preparava para dormir, quando foi chamada às pressas. Era o seu Grande Pai e ela se foi, rápida, plena e em paz! A verdade é que ela não queria nem deitar naquela cama, caso fosse para não se levantar mais no dia seguinte!

Amável Maria é a tradução do nome italiano Amábile Maria! Este é o verdadeiro nome da heroína deste conto. E esta é a história de vida da minha amada e amável mãe, que há poucos dias se transformou em um anjo!

Feliz Dia das Mães

Neste Dia das Mães, o primeiro sem a minha Amábile Maria, quero prestar uma homenagem à todas as mães, às corajosas e amáveis Marias! Não importa onde estejam, basta que tenham existido! E mãe não é apenas aquela que gerou um filho. Mãe é também aquela que espalhou amor!

Feliz Dia das Mães e parabéns a todos os filhos!

Beijos,
Ana Maria

Blogagem Coletiva #52semanasdegratidão
Blogagem Coletiva #52semanasdegratidão
*Essa postagem faz parte da "Blogagem Coletiva 52 Semanas de Gratidão", da Elaine Gaspareto.

**A rosa que ilustra este post foi fotografada no jardim da casa da minha mãe!
Comente via Blogger
Comente via Facebook
Comente via Google+

14 comentários :

  1. Linda, linda e verdadeira mensagem a nossa amada mãe.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, um pequeno resumo da enorme e belíssima trajetória dela aqui na Terra!

      Excluir
  2. Ana:
    Bela história eu e ela, então éramos colegas de profissão.
    Fiquei pensando de quantas crianças passaram pelas suas mãos e os adultos que alfabetizou a jato.
    Beijocas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Sônia!
      Considero Professora uma das mais nobres, senão a mais nobre, das profissões. Sem nossos professores, nada seríamos!
      Beijão

      Excluir
  3. Relato emocionante, Ana Maria!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Elvira,
      Muito obrigada, escrevi com o coração!
      Beijinhos,
      Ana

      Excluir
  4. Ana Maria... que dizer?
    Ainda estou chorando, emocionada com sua homenagem a sua Amábile...
    E tão nítido quando a gente escreve com o coração, não é?
    Tocante, lindo, sua Amábile com certeza é única entre tantas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Elaine,
      Muito obrigada, suas palavras também foram escritas com o coração, chorei de novo. Aliás, nem sei como consegui escrever este texto, porque não posso ler sem me derramar em lágrimas toda vez. Tenho muito orgulho e uma saudade enorme da minha mãe, mas a certeza de que ela está bem me traz paz!
      Beijos,
      Ana

      Excluir
  5. Homenagem justa e perfeita.
    Obrigada por partilhar conosco.
    Muita Luz e paz!
    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Adelaide, obrigada você!
      Muita luz e paz para você também.
      Beijos,
      Ana

      Excluir
  6. Ana Maria... que emocionante! Quase chorei, quase mesmo.. me segurei.. rss. Linda sua homenagem. Linda a história da sua mãezinha. Que mulher forte e corajosa! Com certeza inspirou e inspirará muitas mulheres na jornada de mães e profissionais. Parabéns pelo blog... abraços...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Regiane,
      A história da minha ma~e é linda, sei que ela inspirou muita gente e a mim,, me inspirou e inspira muito. Quem dera um dia eu consiga um dia fazer, pelo menos metade da diferença que ela fez na vida de tantas pessoas.
      Beijos,
      Ana

      Excluir
  7. Bela história, justa homenagem! Que Deus a abençoe. Sei o quanto faz falta ter a mãe por perto e são as lembranças que nos impulsionam a prosseguir. Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Sandra, muito obrigada e se você já passou pelo que estou passando, sabe que a saudade é imensa, mas como você disse, as boas lembranças nos impulsionam a prosseguir. É tudo muito recente pra mim, mas a vida segue.
      Beijos,
      Ana

      Excluir

Obrigada por comentar!
É bom demais receber o retorno dos leitores. Responderei o mais breve possível, então lembre-se de voltar aqui depois para ler a sua resposta.

*Você pode também marcar "Notifique-me", para ser avisado por e-mail quando o seu comentário for respondido.